Marcio Ricci – Um profissional extraordinário
Marcio Ricci consegue expor em todos os seus trabalhos sua paixão pela gastronomia. Esse caso de amor iniciou quando ainda era muito novo, dentro do seu círculo familiar. Entrevistamos o chef para conhecê-lo melhor.
Revista Voix – Olá, chef Ricci! É um prazer estar consigo hoje. Estamos curiosos, eu e as pessoas que irão ler essa entrevista, queremos saber mais sobre quem é Marcio Ricci e qual sua história no mundo da gastronomia.
Marcio Ricci – Olá, o prazer é meu. Atuo na gastronomia há mais de 20 anos. Comecei a estudar na área quando ainda estava no Brasil e, depois que me mudei para Portugal, trabalhei por muitos anos na casa da Madame Patifio, uma senhora de muita classe, onde ganhei uma base sólida em técnicas clássicas e desenvolvi uma vontade por criar experiências gastronômicas únicas e memoráveis.
Voix – Impressionante! O que te inspirou a ser um chef, onde você descobriu esse amor pela culinária?
Ricci – Cresci numa família onde a cozinha era mais importante do que a sala e a comida era o centro de todas as reuniões familiares. Minha avó era uma cozinheira de mão cheia, como costumamos dizer, ela me passou esse amor por criar refeições deliciosas. Desde criança gostava de ajudar na cozinha, comecei a fazer bolos, pasteis e doces para as festas de aniversário dos professores e amigos da escola. Naquela época, fazia o possível com o que tinha acesso, arrancava flores dos jardins para fazer as decorações e todos gostavam. Claro que muitas vezes deu errado, mas minha avó nunca me deixou
desistir, sempre me incentivou a tentar outra vez e, quando algo não está de jeito, eu ainda uso esse lema: tente outra vez. É uma herança familiar.
Voix – É tão gostoso esse carinho pela sua família e sua história. Também é maravilhoso ver como tradições familiares podem influenciar a escolha de uma carreira. Conte um pouco mais sobre seu estilo de cozinha?
Ricci – Meu estilo é a cozinha afetiva, porque me traz um sentimento nostálgico, é comida de verdade, preparada com muito prazer e cuidado para que todos possam se deliciar. Acredito que a maior sensação de prazer de um chef é ver um sorriso no rosto depois de cada garfada. Assim como minha avó, que cuidava de todos, gostava de ver se todos comeram bem, o suficiente e se gostaram daquilo que era servido. Ela se preocupava em fazer o prato preferido de cada um, sempre que podia. Jamais deixaria isso de lado, gosto muito de trabalhar com fusões de cozinha, principalmente das cozinhas brasileira e portuguesa, e busco esse resultado.
Voix – Como é tentar trazer todo esse sentimento para dentro de uma cozinha industrial ou durante um evento, e como gerir uma equipe para chegar ao resultado desejado?
Ricci – A gestão de uma cozinha não é fácil, o respeito é uma das coisas mais importantes. Além de mostrar amor pelo que está fazendo, também é preciso selecionar os que sintam o mesmo, que tenham cuidado com os alimentos e que gostem de servir. Nessa área já conheci pessoas que tentaram de tudo, desde engenharia civil à medicina, e que por fim decidiram arriscar tudo na gastronomia. E digo arriscar tudo porque tinham profissões que garantiam um alto salário e maior reconhecimento em um tempo menor. Muitos gostam de cozinhar, mas para algumas pessoas isso é um dom, e para
estas últimas não é preciso esforço algum para chegar ao resultado desejado, ou para criar algo inusitado e delicioso.
Voix — Na sua visão, o setor de gastronomia ainda pode crescer muito? Tem espaço para isso?
Ricci – Acredito que sim, tem muito espaço. Temos um mercado consumidor mais exigente, em busca de produtos naturais, também podemos ver uma busca cada vez maior por produtos veganos. E, por fim, culinária também é uma arte, temos tanto a explorar. Meus projetos envolvem tudo isso, gosto de pensar que sou moderno e que estou em constante aprendizado, buscando trazer o que há de melhor. Futuramente, quem sabe, teremos uma escola, onde possamos ensinar tudo isso e mostrar o caminho a quem gosta ou tem interesse.
Voix – Pode compartilhar alguma experiência ou conquista na sua carreira que teve um impacto significativo para si?
Ricci – A primeira vez que cozinhei para a Madame Patifio, na verdade, todas as vezes foram memoráveis. Por ter sido uma mulher tão influente, oferecer jantares de gala e receber tantos convidados especiais, ela tinha um cuidado especial com tudo. A comida não bastava estar suculenta, deveria estar perfeita, do início ao fim. Ela gostava de ver a apresentação e o cuidado para que fossem sempre diferentes. Quando fazia suas refeições, sentia o gosto de cada prato, se preocupava para
que fossem perfeitos para ela e seus familiares ou convidados, qualquer refeição era uma experiência. Foi uma pessoa que soube apreciar cada um dos pratos que pude preparar.
Voix – Deve ter sido uma experiência incrível. Por fim, o que pode dizer a alguém que esteja indeciso ou pensando em ingressar na gastronomia?
Ricci – Assim como a minha avó, espero que você não desista se algo der errado. Se uma panela pegar fogo, apague. Se o arroz queimar, faça outro. Mas jamais desista, tente de novo. E, se não der errado, é porque não está tentando!
Voix – Obrigado por ter compartilhado tanto conosco! Chef Ricci, foi um prazer falar consigo.
Ricci – Obrigado por me receber, foi um enorme prazer.
Instagram: @chefmarcioricci